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Divulgação do Programa de Aprendizagem ao Longo da Vida - Leonardo da Vinci - Mobilidade pelo Serviço de Orientação e Integração Profissional (SOIP) e pela Unidade de Relações Externas (URE) da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.

29 de outubro de 2010

Estágio na Universidade de Santiago de Compostela - Dpt. de História de Arte




Santiago de Compostela, cidade onde me encontro a realizar a mobilidade profissional “Leonardo da Vinci” é, como todos devem saber, uma das cidades mais importantes de Espanha em termos históricos, sendo a actual capital da comunidade autónoma da Galiza. Não obstante estar atrás de Vigo ou da Corunha em termos demográficos e económicos, Santiago de Compostela viu o seu estatuto actual, de capitalidade da Galiza, nação histórica reconhecida pela actual Constituição da nação espanhola; ser afirmado em 1982 e reafirmado e selado, em termos oficiais, numa lei aprovada no parlamento galego no recente ano de 2002, reunindo o consenso geral da sociedade galega contra o “lóbis” que reclamava a continuidade da capitalidade da poderosa e rica cidade portuária da Corunha.

Para os estrangeiros que visitam esta pequena “nação” do noroeste da península ibérica - cujos estudos estatísticos recentes indicam ter a língua mais falada em Espanha em termos percentuais pelos seus próprios nativos - em Santiago de Compostela, parecer-lhes-á estar, de facto, o seu coração, sendo também a cidade da Galiza onde mais se fala e protege a língua Galega.

Na verdade, não é necessário estar-se por cá à pouco mais de três semanas como eu, para se entender o motivo da sua centralidade, para entender afinal que boa parte da identidade espiritual e material da Galiza, e mesmo da Europa, está e irradia do âmago desta sinuosa urbe medieval para onde confluem, pelas suas artérias vindas do continente profundo e de além-mar, pessoas de todas as partes da Espanha e do mundo. Para este centro de peregrinação milenar que é a própria cidade confluem os caminhos de Santiago, uma vasta rede de percursos traçados ao longo dos tempos pelos peregrinos para os peregrinos vindos dos quatro cantos do mundo para Compostela, ou seja, para o “campus stellae”, campo onde no século VII apareceram estrelas, fenómeno mágico e miraculoso a que assistiu continuamente Pelayo o monge eremita que dessa forma descobriu o túmulo apostólico.

São quatro os caminhos ou rotas:o caminho francês; o caminho do Norte; a Rota da Prata (vinda do interior e sul de Espanha); o “nosso” caminho, o caminho português e a Rota da Finisterra (por onde seguem os peregrinos até a um altíssimo cabo ou promontório,com o mesmo nome, que dava por terminada a terra conhecida e o início do temido e vasto oceano cuja sacralidade como santuário natural remonta as épocas em que os celtas ai prestavam cultos pagãos).

Os peregrinos reúnem-se, depois de entrarem no emaranhado urbano sinuoso e algo apertado, na praça do Obradoiro, diante, ou dentro de, um dos maiores símbolos europeus: a catedral, sobre o coro da qual jaz supostamente, numa cripta visitável, o apóstolo Santiago o Maior. O espaço do centro histórico da cidade, é marcado por uma dicotomia espacial interessante, pois se a maioria das praças são pequenas de escala, conforme o perímetro da urbe medieval, a praça do Obradoiro e a Praça da Quintana, que fica por detrás da primeira, são duas enormes praças onde devem caber lá dentro quase todas as outras juntas.

A palavra “Obradoiro” vem de obra e a praça era, como podem imaginar, um enorme estaleiro de obras que depois de pronta a catedral foi devidamente pavimentada e riscada para recolher de forma grandiloquente e apoteótica as massas de peregrinos diante do conjunto arquitectónico, considerado por muitos, o exponente máximo de toda a arquitectura românica, estatuto granjeado em boa parte pelo contributo da obra-prima do Mestre Mateo, “O pórtico da Glória”: um espectacular pórtico historiado com mais de 200 figuras esculpidas, construída já com um certo "realismo" “proto-gótico” representado temas e episódios bíblicos; uma verdadeira bíblia dos iletrados; mas também pelo coro pétreo, impressionante conjunto escultórico-arqitectónico da mesma autoria, destruído na era moderna e alvo de um restauro minucioso e monumental.

O edifício da faculdade de Geografia e Historia, onde fica do dptº de Historia de Arte, instituição onde estou realizar o presente estágio, é o antigo convento dos jesuítas de Santiago de Compostela espoliado pelo estado aquando da extinção daquela ordem; com uma fachada imponente que não passa despercebida a ninguém, mesmo ao turista mais desatento a estes aspectos do património.

Também já visitei a cidade de Lugo, uma importante e curiosa cidade da Galiza, sitiada por uma extensa linha de muralhas romanas mandadas construir durante o mandato do Imperador Júlio César, cujos topos são perfeitamente transitáveis, um verdadeiro passeio público através da história, a história viva. É um monumento muito bem conservado que as pessoas usufruem a sério, usam para aceder as suas casas, caminham, correm, apanham sol, etc. Para se dar a volta à centro da cidade basta percorrer o perímetro fortificado, só visto.

Ainda em Lugo, do parque/jardim Rosália de Castro têm-se vista para a um rio médio de águas límpidas, a lembrar o Mondego, (embora mais limpo que este) serpenteando uma paisagem magnífica. Um rio que só por acaso é o “nosso” – mas também “deles”: dos nossos irmãos do lado de lá da fronteira – Rio Minho.
Testemunho de Higino Faria, Estagiário Leonardo da Vinci em Santiago de Compostela